CASACOR 2023
"Casa Japandi" é um ambiente inspirado na imersão recente de Giuliano Marchiorato no Japão. O arquiteto é amante do minimalismo e da linguagem empregada em alguns projetos da terra do sol nascente. Isso acaba refletindo em sua própria obra que incorpora alguns conceitos japonistas.
Primeiramente com a filosofia do "wabi sabi", uma abordagem estética que valoriza o natural e a sua singularidade.
O segundo conceito encontrado no espaço é o Hygge. A palavra dinamarquesa e norueguesa se apresenta muitas vezes na arquitetura escandinava. O conceito traduz o aconchego que as pessoas encontram nos espaços arquitetônicos, através de texturas naturais em espaços minimalistas. O acolhimento do olhar e do toque.
Unido a estes conceitos, Marchiorato explora no ambiente de estar e jantar a sua linguagem arquitetônica de linhas retas, atenção aos mínimos detalhes, poucos materiais e menos poluição visual.
Como uma forma de expressar um estilo único, o arquiteto traz um olhar cuidadoso para os designs e artes assinadas em seu projeto, sempre fazendo uma curadoria meticulosa de todos os objetos.
São escolhidas sempre peças com desenho harmonioso que evidenciam o pertencimento local, o natural e a estética contemporânea.
Sempre que inicia o desenvolvimento de um projeto de interiores, Marchiorato opta por escolher os elementos principais do projeto antes de inseri-los nos planos do espaço. Neste caso não foi diferente.
Para o plano do piso, o arquiteto escolheu a madeira taquari em seu acabamento fosco aquecendo a base do espaço, remetendo às premissas do estilo Japandi e evidenciando o conceito naturalista.
Nas paredes, desenhou milimetricamente uma base de painéis em madeira que vestem o espaço como um terno de alfaiataria. Ora brinca com a inclinação da parede existente para gerar espaços e pontos focais para uma peça de arte. Ora traz a rigidez da forma nos nichos que compõem uma das grandes empenas do espaço.
Até mesmo o ritmo dos painéis que retomam o espaço e demarcam os acessos se tornam base para o uso de artes acopladas a si.
Ainda no plano das paredes, uma grande lareira foi desenhada especialmente para o espaço. O arquiteto, que também assina peças do mobiliário, fez questão de pensar em um grande elemento focal para o projeto.
A lareira em mármore branco paraná escovado, extraído de um local próximo a cidade de Curitiba, visita o natural e a rusticidade do elemento traduzido em um móvel que tem o poder de aquecer. Um elemento único, pois nenhum elemento natural é igual ao outro.
O desenho ímpar da peça remete ao requinte usado em sua melhor maneira.
O plano do teto foi pensado para ser um elemento leve. Uma textura em tom pastel clareia e direciona o olhar para os outros planos, sem perder o aquecimento devido a natureza mais rústica do acabamento. A iluminação técnica foi projetada para ter os dois fundamentos principais: a luz e a sombra.
A luz direciona o olhar para os pontos focais do projeto, como as artes, as peças de decoração e o desenho arquitetônico. A sombra, além de presente, se faz necessária, pois adiciona um aspecto lúdico. A dramaticidade se torna a coadjuvante para a luz ser a protagonista.
Um não existe sem o outro.
O resultado é uma camada adicional de textura resultando em um ambiente intimista, aconchegante e aquecido.
O ambiente de jantar se diferencia por uma mesa com altura mais baixa que o padrão, possibilitando a opção de poltronas no lugar das cadeiras. A escolha adiciona conforto e evidencia a preocupação do arquiteto em proporcionar lugares acolhedores para a reunião de pessoas.
Os pendentes contemporâneos da Dsgn Selo são peças de arte posicionadas acima da mesa de jantar e próximo a poltrona de descanso. As obras mostram sua versatilidade no movimento das peças, possibilitando luzes distintas que criam cenários que trazem a luz e a sombra como elementos participantes do projeto.
O arquiteto remete o desenho dessas luminárias ao sol nascente oriental.
Os mobiliários de desenho contemporâneo desconstroem o ambiente devido aos seus laços japoneses e desenho mais próximo ao chão.
O conjunto de sofás, puffs e poltronas estofadas disrompem a ideia de layout tradicional ortogonal, adicionando uma pitada jovial e descolada, característica também marcante no estúdio Giuliano Marchiorato.
A ideia do layout e da curadoria das peças foi imprimir ao local uma atmosfera lúdica, como sentar-se ao redor de uma fogueira. Quase como em uma floresta de árvores de madeiras claras, mas aqui em um desenho reinventado e contemporâneo.
A casa Japandi é como um prefácio de um livro. Uma amostra do que o arquiteto acredita e do que ele emprega na sua arquitetura.
O espaço de Giuliano Marchiorato na Casacor integra os conceitos minimalista e contemporâneo, com raízes em filosofias japonistas e escandinavas, mas sem abrir mão da brasilidade, da curadoria e do pertencimento ao espaço natural.
Seu meticuloso processo projetual, que invariavelmente se inicia no plano dos sonhos, é materializado na prancheta e aprimorado por técnicas e tecnologias.
Nasce entre paredes e vive na dualidade da função e da forma.
Mas nunca foge dos seus conceitos na busca incessante pelo belo e único.
Cada projeto se torna uma história que convida quem visita ou quem habita a também contá-la.